Já faz quase 50 anos que o DJ mudou a forma como experimentamos música, mas pouca gente sabe exatamente o que um DJ profissional realmente faz no palco.
Se você sair perguntando por aí, a maioria das pessoas vai te dizer que um DJ aperta alguns botões, ao mesmo tempo que sorri e coloca as mãos pra cima.
Mas um DJ profissional faz muito mais do que isso, pode ter certeza. É preciso estudar e praticar muita coisa pra fazer o que um DJ faz no palco.
E nós vamos explicar tudo o que pudermos neste post.
Pra começar, DJs não são todos iguais.
Hoje existe um senso comum, repetido até mesmo por alguns profissionais do ramo, de que qualquer pessoa, mesmo sem treinamento, pode ser DJ.
Isso não é exatamente verdade. Qualquer um pode ser DJ sim, desde que treine para isso.
Essa é uma ilusão criada pela tecnologia que envolve a discotecagem. Mas os softwares de discotecagem não fazem o trabalho sozinho, eles são uma ferramenta. E, como toda ferramenta, é necessário estudá-la para explorar todo o seu potencial.
O que um DJ profissional faz é resultado de um conjunto de habilidades que requer estudo e prática.
Dizer que qualquer um pode ser DJ, mesmo sem estudo, é o mesmo que dizer que qualquer pessoa que saiba dirigir pode ser um piloto de Fórmula 1.
Todos sabemos que um carro de F1 é completamente diferente de um carro comum. Mas vamos admitir: deve ser BEM divertido aprender a pilotar um F1!
Não é o software ou equipamento que vai te tornar um bom DJ. Um profissional sabe extrair o melhor com o que ele tem à mão. Como esse cara aqui:
Se você tem facilidade para escolher músicas e todo mundo elogia as suas listas do Spotify, ótimo. Isso é um bom sinal. Mas até você se tornar um DJ profissional ainda tem alguns passos.
Um DJ precisa manter a harmonia musical e rítmica do seu set, para que as pessoas possam apreciá-lo. As transições de música precisam ser profissionais, suaves. Se ele erra aqui, todo mundo percebe, e isso mata o clima da pista.
As pessoas vão olhar feio para ele, ou mesmo vaiá-lo. Nem mesmo superstars estão livres disso.
Existem outras habilidades que são fundamentais para que o DJ faça o seu trabalho da forma certa e emocione as pessoas.
Você já deve ter ido a um club ou festa em que o DJ parecia desconectado do público. Qual foi a sensação que você teve?
Deixe-nos adivinhar qual foi a sua reação – e, provavelmente, a do resto das pessoas que estavam lá: a sensação foi a de que ele era um DJ ruim, certo?
Esse é um dos pontos que um DJ profissional tem que dominar com maestria: ele precisa saber “ler” o seu público, e se conectar com a plateia.
Já imaginou ter o controle de uma pista e alterar o “humor” dela apenas pela música? Então, isso é a leitura de pista.
Isso não significa que o profissional tem que ser uma máquina de tocar hits. Na verdade, tocar apenas sucessos é um dos jeitos mais rápidos que existem para esgotar uma pista. O DJ tem que entender a pista, mas não pode se tornar refém dela. É um processo de troca entre o DJ e a sua audiência, em que ele é o condutor.
A leitura de pista serve para o DJ observar as reações do público ao que ele está tocando para escolher as músicas mais adequadas. É claro que o tempo e a experiência ajudam a tornar o processo todo mais suave, mas a leitura de pista começa muito antes da gig. E essa é uma das experiências mais gratificantes do trabalho!
O DJ pode, por exemplo, ir algumas vezes à festa em que pretende tocar para se colocar no lugar do público e entender as suas emoções. Saber o que movimenta aquelas pessoas na pista.
Uma playlist pronta simplesmente não funciona nesses casos.
Principalmente se o DJ tocar em grandes eventos, ou fazer sets longos, de 5, 6 horas.
É muito tempo para ficar apenas fingindo, concordam?
Cada público é único, e seu comportamento muda durante o evento. A energia de uma plateia no começo de um evento é completamente diferente da de quem está no fim dele. É preciso modular isso durante a festa. O DJ precisa entender a dinâmica da pista. É um passeio de montanha-russa.
E a melhor forma de estar preparado é pesquisar muito e de tudo um pouco. Ou seja, boa parte do trabalho do DJ envolve ouvir muita música! Tem coisa melhor?
Você certamente já teve que dar um presente para uma pessoa que não conhecia, certo?
É mais ou menos assim. Mesmo em festivais ou em clubs, a variedade de gostos é imensa. O DJ tem achar um ponto de equilíbrio entre as suas referências e as do seu público, mas com o seu toque pessoal. Aquilo que faz com que as pessoas saibam que é o DJ (coloque aqui o seu nome artístico) que está tocando, e não qualquer outra pessoa.
É claro que o DJ provavelmente não vai agradar a todos, mas é sua função chegar o mais perto disso. Ele tem que fazer isso ao mesmo tempo em que imprime a sua personalidade, através das músicas que ele escolhe para o seu repertório. É meio que se apresentar para um novo grupo de amigos, usando a música como linguagem.
E isso é outra coisa que um DJ profissional faz: ele seleciona um conjunto de músicas para um público específico.
Para isso, ele tem a obrigação de estudar a história da música – e não só da eletrônica. Tem que entender de estrutura musical, nota, BPM, música atual e tendências, até mesmo das letras.
Se você nunca tirou um tempo só para ouvir coisas novas (ou velhas, mas desconhecidas pra você), ou nunca visitou uma loja de discos, não sabe o que está perdendo. Na verdade, embora essa seja uma das partes mais legais e divertidas do trabalho, o que um DJ profissional faz não se limita à pesquisa de música.
Ele ainda precisa entender de acústica, conhecer bem todos os equipamentos que vai usar; saber as características de cada um deles para ajustar o som no volume certo para o espaço e a quantidade de pessoas para quem vai tocar.
Precisa saber o que fazer se o som não sai, que tipo de cabos usar, os requisitos elétricos para cada tipo de aparelhagem.
Tem que saber como usar um mixer, caixas de som, controladoras, softwares de DJ, efeitos, iluminação.
Com tantas habilidades, a profissão passa longe de ser rotineira. Se tem uma palavra que não existe no vocabulário do DJ profissional, essa palavra é tédio!
A principal coisa que diferencia um DJ profissional de um amador é a técnica.
Essa técnica se chama Beatmatch e é usada para fazer a transição de uma música para a outra de maneira que elas “conversem” entre si e deem a impressão de continuidade, como se fosse uma única grande música.
Guardadas as devidas proporções, é mais ou menos o que um maestro faz com uma orquestra – ele conduz cada seção dela para enfatizar essa ou aquela parte da peça musical que eles estão executando.
É a maneira como cada maestro conduz a orquestra que torna a mesma peça diferente a cada audição. Cada um deles coloca as emoções da música em partes diferentes da peça, tornando-a única. De certa forma, isso também é o que um DJ profissional faz.
Ele filtra as suas próprias emoções, as do público e as traduz em um set de discotecagem. Assim, dá para dizer também que o DJ é um mediador de bons sentimentos para a sua plateia.
Como o DJ e produtor francês Laurent Garnier costumava dizer, “O DJ tem que contar uma história”.
E ele faz isso através do seu set, construindo uma narrativa em que cada música é como uma frase da sua história. O que torna essa narrativa interessante é como e em que ordem essas frases são coladas.
Um set de DJ profissional é como um livro em que cada capítulo muda um pouco a cada nova leitura. O resultado é que a história nunca é completamente a mesma.
E o público não cansa de ouvir porque sempre tem um capítulo novo, diferente.
Falta bem pouco para você entender tudo o que um DJ profissional faz. E, nessa parte aqui, a gente sai um pouquinho da música.
Ele também precisa gerenciar sua carreira.
Isso envolve conhecer boas práticas em redes sociais, preparar um presskit adequado, saber se relacionar com os contratantes, e entender como funciona todas as etapas da contratação. Um DJ profissional precisa gostar de gente, e saber como interagir de acordo com cada situação. E é uma excelente oportunidade de fazer novos amigos.
Isso é especialmente importante para quem está começando ou não tem um agente para lhe representar. Você tem que construir relações profissionais honestas e genuínas.
O comportamento do DJ profissional é o seu currículo. Isso vale da pista pra fora também.
E tudo isso se resume a uma palavra importantíssima: planejamento.
O momento em que você vê o DJ no palco, tocando e interagindo com o seu público, é só uma pequena parcela do trabalho.
Tem uma parte muito maior, mas não menos divertida de trabalho antes disso. O DJ no palco é a ponta do iceberg. É o resultado de todo um preparo que começou bem antes de ele estar ali.
E para que isso dê certo, saber separar cada etapa do trabalho e colocar as atividades na ordem correta é fundamental. Sem organização, o trabalho se perde. Usar um app de organização pessoal como o Trello pode ser útil.
O que um DJ profissional faz não é apenas apertar botões, sorrir e colocar as mãos pra cima.
Mas pode ter certeza: a partir do momento em que você entende quando, como e porque apertar os tais botões, você começa a sorrir também. Aliás, você e o público.
O que você está fazendo para se tornar um DJ profissional?